domingo, 18 de fevereiro de 2007

Palestra realizada com professores de 5a a 8a séries


PREFEITURA MUNICIPAL DE COCAL DO SUL
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO E DESPORTO
PROFª : VERA MARIA SILVESTRI CRUZ


O CASO DE MIGUEL I

Miguel é um homem solteiro, de boa aparência, com 33 anos de idade.
Eis a seguir como foi percebido por várias pessoas no dia X:

RELATO DA MÃE: “ Miguel levantou correndo, não quis tomar café, não ligou para o bolo que eu havia feito especialmente para ele. Só apanhou cigarros e fósforos. Não quis por o cachecol que eu dei. Disse que estava com pressa e reagiu com impaciência a meus pedidos para se alimentar e se abrigar. Ele continua sendo uma criança que precisa de atendimento, pois não reconhece o que é bom para si mesmo”.

RELATO DO MOTORISTA DE TÁXI: “ Hoje de manhã apanhei um sujeito que eu não fui muito com a cara dele.Estava de cara amarrada, seco ,não queria saber de conversa. Tentei falar sobre futebol, política, tráfego e sempre me mandou calar a boca, dizendo que tinha que se concentrar.Desconfio que ele é um cara subversivo, desses que a polícia anda procurando, ou desses sujeitos que assaltam motoristas de táxi para roubar. Aposto como anda armado. Fiquei louco para me livrar dele”.

RELATO DO GARÇON DA BOATE: “ Ontem à noite ele chegou aqui acompanhado de uma moça bem bonita, mas não deu a mínima bola para ela. Passou o tempo todo olhando para tudo que era mulher que entrava. Quando entrou uma loira de vestido colante, me chamou e queria saber quem era. Como eu não a conhecia não teve dúvidas, foi até a mesa falar com ela. Eu disfarcei e passei por perto e só pude ouvir que ele marcava um encontro às 09 horas da manhã, bem nas barbas do acompanhante dela. Sujeito peitudo. Eu também dou as minhas voltinhas, mas essa foi demais”.

RELATO DO ZELADOR DO EDIFÍCIO: “ Ele não é muito certo da bola,não. Às vezes cumprimenta, às vezes finge que não vê ninguém. As conversas dele a gente não entende. É parecido com um parente meu que enlouqueceu. No dia X, de manhã, ele chegou falando sozinho. Eu dei bom dia e ele me olhou com um olhar estranho e disse que tudo no mundo era relativo, que as palavras não eram iguais para todos e nem as pessoas. Me deu um puxão na gola e apontou uma senhora que passava e disse que cada um olhava para ela e via uma coisa diferente.Disse também que quando ele pintava um quadro, aquilo era realidade. Dava risadas. Está na cara que ele é um lunático”.

RELATO DA FAXINEIRA: “ Ele anda sempre com um ar misterioso. Os quadros que ele pinta a gente não entende. Quando ele chegou na manhã do dia X, me olhou atravessado e tive o pressentimento de que ia acontecer alguma coisa ruim. Pouco depois chegou a moça loira. Ela me perguntou onde ele se encontrava e eu disse. Daí a pouco ouvi ela gritar e eu acudi correndo. Abri a porta e ele estava com a cara furiosa olhando para ela, cheio de ódio. Ela estava jogada no sofá e no chão tinha uma faca. Eu saí gritando: Assassino! Assassino!”.
O CASO DE MIGUEL II
Eis a seguir como Miguel relata o que ocorreu no dia X:

Eu me dedico à pintura de corpo e alma. O resto não tem importância. Há meses que eu quero pintar uma madona do século XX, mas não encontro a modelo adequada que encarne a beleza, a pureza e o sofrimento que eu quero retratar.
Na véspera do dia X uma amiga me telefonou dizendo que tinha encontrado a modelo que eu procurava e propus um encontro na boate que ela freqüentava. Eu estava ansioso por vê-la. Quando ela chegou, fiquei fascinado. Era exatamente o que eu queria. Não tive dúvidas: fui até a mesa dela, me apresentei e pedi para que posasse para mim. Ela aceitou e marcamos um encontro no meu atelier às 09 horas da manhã. Eu nem dormi direito aquela noite. Levantei - me ansioso para começar o quadro e nem podia tomar café de tão emocionado.
No táxi comecei a fazer um esboço, pensando nos ângulos da figura, no jogo de luzes, na textura das cores.
Quando entrei no edifício eu estava cantando baixinho. O zelador falou comigo e nem tinha prestado atenção. Aí eu perguntei: O que foi? E ele disse bom dia! Nada mais do que bom dia. Ele não sabia o que aquele dia representava para mim. Sonhos, fantasias, aspirações, tudo iria se tornar realidade enfim, com a execução daquele quadro.Tentei explicar para ele. Eu disse que a verdade era relativa, pois cada pessoa vê as coisas de forma diferente. Quando eu pinto um quadro, aquilo é a minha realidade. Ele me chamou de lunático. Dei uma risada e disse: O lunático que você vê não existe.
Quando eu subia a escada, a faxineira veio me expiar. Não gosto daquela mexeriqueira.
Entrei no atelier e comecei a preparar a tela e as tintas. Quando eu estava limpando a palheta com uma faca, tocou a campainha. Abri a porta e a moça entrou, estava com o mesmo vestido da véspera e explicou que passara a noite em claro, numa festa. Eu pedi que se sentasse no lugar indicado e que olhasse para o alto, que se imaginasse com um ar perdido, sofrendo. Aí ela me abraçou e disse que eu era simpático. Eu afastei os seus braços e perguntei se ela tinha bebido. Ela disse que sim, que a festa estava ótima, que foi uma pena eu não ter estado lá, que sentiu a minha falta, que gostava de mim. Quando me abraçou de novo, com cheiro de bebida eu a empurrei no sofá e ela gritou.
Neste instante a faxineira entrou gritando: Assassino! Assassino!
A loira levantou-se e foi embora me chamando de idiota.
Ah! Minha madona do século XX!

Roteiro para discussão:
Com quem está a verdade?
A quem pertence esta história?
Como a escola geralmente trabalha?
Como nós comumente agimos?
Que atitudes precisaríamos tomar diante da situação?