sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Luciano, arruma a casa da Zezé!

Cópia da carta que enviamos para o quadro "Lar Doce Lar"

do programa Caldeirão do Huck da REde Globo.Oi, Luciano

Sou Ana Lúcia Pintro, professora de matemática das redes municipais de Criciúma e de Cocal do Sul, municípios do sul catarinense.


Sempre que faço o caminho da parada de ônibus até a escola onde trabalho, passo em frente à casa de uma das minhas alunas do 9º ano, da E.E.F. Demétrio Bettiol, situada no Bairro Brasília de Cocal do Sul. Observo que as reformas, embora simples, evoluem muito pouco e sei que isso se deve as dificuldades financeiras dessa família que tem uma renda baixa e incerta.


Resolvi escrever porque conheci a mãe dessa aluna justamente num momento em que eu estava muito indignada com a falta de interesse dos alunos pelos estudos e eu percebia o esforço que ela fazia para superar as dificuldades e correr atrás do sonho de se formar em Enfermagem. Eu vi parte da minha história refletida na dela!


O nome dela é Maria José da Cunha Santana, tem 42 anos e três filhos: Maiara (17 anos), Danieli (13 anos) e Crichelida (6 anos). Ela é casada com o pedreiro Murialdo da Cruz.


Gostaria de falar mais sobre a Zezé: é assim que a conhecemos. Hoje, ela é Auxiliar de Enfermagem e atua num PSF – Posto de Saúde – de Cocal do Sul. Já está formada como Técnica de Enfermagem.


O interesse dessa mulher pela área da Saúde começou quando trabalhou como faxineira e atendente, durante sete anos no Hospital São José de Criciúma. Certo dia, uma enfermeira percebeu que ela demonstrou habilidade ao coletar sangue de um paciente e lhe sugeriu que fizesse o curso de Atendente de Enfermagem, oferecido pelo próprio hospital.


Incentivada, conseguiu uma Bolsa de Estudos para concluir o Ensino Médio no CCC – Colégio Comercial de Ciência e Administração. Após concluir esse curso, trabalhou ainda como “Serviços Gerais” durante um mês no Hospital São João, também em Criciúma. Logo, passou a exercer a função de Auxiliar de Enfermagem. Enquanto isso ganhou uma bolsa para fazer o curso de Auxiliar de Enfermagem no Colégio CIS.


Depois disso, passou cinco anos morando em Florianópolis, mas não gosta de falar desse período porque foi uma fase em que enfrentou sérias dificuldades. Voltou pra cá e trabalhou durante dois anos no Hospital de Nova Veneza, outro município muito próximo daqui.


Há nove anos, a Zezé está morando em Cocal do Sul. Trabalhando aqui, ganhou uma bolsa do PROFAE, através do SENAC e finalmente concluiu o Curso de Técnico em Enfermagem. Nos finais de semana ela trabalha como Agente de Saúde, visitando a Linha Espanhola, uma comunidade do município. E, nos horários de folga do trabalho no posto, faz faxinas.


Durante certo tempo sua família morou numa casa pequena construída nos fundos da casa da sogra que era doente e que foi por ela cuidada durante três anos, até o falecimento. Então, os familiares retiraram a casa que pertencia a sogra. E em, 1988, a Zezé comprou a casa onde residia de graça, por R$ 300,00.


No final de 2006, sua família ganhou metade de uma casa de madeira. O banheiro, a cozinha e a área foram construídos pelo marido que é pedreiro. Parte do material que eles usam para, aos poucos, fazerem as reformas, ganharam de pessoas solidárias.


Eu sei que ela sonha em ter a casa pronta e sei também que os sonhos dela mexem com os sonhos das filhas, principalmente da Danieli e da Crichelida. Posso afirmar isso, porque quando eu era pequena meu pai dizia que iria construir uma casa com banheiro - nós não tínhamos nem patente - e comprar um fusca e esses sonhos acompanharam-me durante toda a infância e adolescência. Meu pai nunca teve um carro e morreu sem ter acabado as obras de uma pequena casa de madeira que fez num sítio situado em Jaborá, município do oeste catarinense. Eu ainda não tenho casa própria, mas a prefeitura de Criciúma irá construir um condomínio somente para os funcionários efetivos e acredito que tenho enormes chances de adquirir um apartamento daqui uns dois anos. Enquanto isso, fico torcendo pra ver a casinha da Zezé concluída, bonita e habitada por pessoas merecedoras dessa graça.


Se sua equipe escolher minha carta pra realizar o sonho de alguém, prometo organizar um grupo de no mínimo dez pessoas e subir os 12 Km da maravilhosa Serra do Rio do Rastro, a pé. Sei que é uma promessa que faço em beneficio próprio porque curtir a natureza presente naquelas incontáveis curvas é sobrenatural. Mas, também, dificilmente farei uma aventura dessas sem um bom motivo.


Tenho alguns blogs onde publico trabalhos realizados com nossos alunos, eventos das escolas em que atuo e crônicas que escrevi durante algum tempo para um dos jornais semanais que tínhamos aqui. Se sua equipe desejar conhecer melhor nossa realidade, pra poder pensar com mais carinho, acessem um dos links a seguir:


http://escolademetriobettiol.blogspot.com (onde publicamos essa carta)


http://anacousseau.blogspot.com


http://projetococrimat.blogspot.com


Espero ter usado as palavras certas nessa carta, assim como você sempre faz quando está com as pessas que cruzam seu caminho.


Essa é a casa da Zezé, localizada no Bairro Guanabara em Cocal do Sul.